terça-feira, 26 de março de 2013

Mal da Alma.


Era uma vez um pássaro.

Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes,
coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto do céu, alegrar
quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo
com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de
emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia.
Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a
mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja,
inveja da capacidade de voar do pássaro.

E sentiu-se sozinha.
E pensou: "Vou montar uma armadilha. A próxima vez que o pássaro surgir, ele não
mais partirá."
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha,
e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixão, e ela mostrava
para suas amigas, que comentavam:
Mas você é uma pessoa que tem tudo."
Entretanto, uma
estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava
conquistá- lo, foi perdendo o interesse.
O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido de
sua vida, foi definhando, perdendo o brilho, ficou feio - e a mulher já não prestava mais
atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava de sua gaiola.
Um belo dia, o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e vivia pensando nele.

Mas não se lembrava da gaiola, recordava apestas o dia em que o vira pela primeira vez,
voando contente entre as nuvens.

Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no
pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido, e a morte veio bater à sua porta.

"Por que você veio perguntou à morte.
"Para que você possa voar de novo com ele nos céus'; respondeu a morte. "Se o
tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais, - entretanto,
agora você precisa de mim para poder encontrá-lo de novo."


Trecho retirado do Livro Onze Minutos.

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